A fonte eólica vem se tornando uma alternativa complementar importante na matriz elétrica brasileira e tem merecido cada vez mais atenção no planejamento da expansão. Neste cenário, o Cepel está lançando uma metodologia inédita para o cálculo da garantia física declarada de parques eólicos. O P90, como é chamado o valor líquido de produção anual de energia (AEP, Annual Energy Production) com 90% de probabilidade de ser superado, é exigido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para participação em leilões para venda de energia no ambiente regulado.
O desenvolvimento da metodologia foi realizado no âmbito de um projeto executado pelo Cepel para Furnas. A pesquisadora Vanessa Guedes, integrante da iniciativa, explica que, hoje, a estimativa da AEP de um empreendimento eólico no Brasil é calculada com diferentes metodologias, disponíveis em ferramentas computacionais comerciais, que utilizam informações como medições de ventos, curva de potência dos aerogeradores, posicionamento dos aerogeradores no parque, relevo e rugosidade locais. Por meio destas informações, pode-se obter a AEP bruta, que deve ser descontada de determinadas perdas para obtenção da AEP líquida. No entanto, o valor líquido de AEP calculado por estas ferramentas é aquele que possui 50% de probabilidade de ser superado, chamado de P50, abaixo da exigência atual da EPE.
No que diz respeito ao cálculo do P90, a pesquisadora destaca que a determinação das incertezas do projeto, necessária para o cálculo desta estimativa, provém de metodologias próprias de consultorias e certificadoras, que, muitas vezes, em seus relatórios, não fornecem detalhamento das considerações feitas ao longo do processo. “Até o momento, não existe uma norma específica ou outro documento que trate deste assunto com o detalhamento e cuidado empregados pelo Cepel. A nova metodologia vai reduzir bastante a subjetividade na estimativa das incertezas da produção energética e será aberta aos usuários, permitindo o conhecimento das hipóteses adotadas. Com isso, os empreendedores e investidores ganham independência no cálculo da produção energética P90”, complementa.
O próximo passo, segundo Vanessa, será o desenvolvimento de uma ferramenta computacional acessível e amigável para obtenção das incertezas do cálculo da produção energética e, consequentemente, a estimativa do P90. Esta nova ferramenta, que será desenvolvida utilizando como base a metodologia desenvolvida pelo Cepel, fornecerá, também, análise de sensibilidade para as diversas incertezas.
A nova metodologia foi apresentada por Vanessa no Brazil Windpower e será explicada mais detalhadamente em webinar a ser realizado pelo Cepel em dezembro deste ano. Subsidiaram a elaboração da metodologia o Guia ABNT ISO/IEC GUM 2008, a norma IEC 61400- 12-1:2017 e a literatura acadêmica disponível.
Além de Vanessa Guedes, participam do projeto os pesquisadores do Cepel Ricardo Marques Dutra, Antonio Carlos de Barros Neiva e Sergio Roberto F. Cordeiro de Melo. A iniciativa de solicitar ao Cepel o desenvolvimento dessa metodologia partiu de Isaac Benchimol, gerente do Departamento de Engenharia Civil, e Andre Lannes Bianchi, do Departamento de Engenharia Civil, ambos de Furnas.